Eu olho pelo vidro da janela embaçado pelo vapor do café quente em minha mesa. Lá fora faz frio, e as pessoas caminham ás pressas tentando achar um lugar para se esquentar. Mas aqui dentro, o café, apesar de amargo me aquece. Assim como o romance que exala das últimas páginas do meu livro preferido. Não quero terminar de lê-lo, não hoje. Paro, e bebo mais um gole do meu café expresso e delicioso com creme. Eu poderia viver eternamente se o tempo parasse bem naquele momento. Um livro e um café. Palavras com aroma de cafeína. E o mundo lá fora poderia desabar, que eu não me importaria.
Parei mais uma vez observando as pessoas através do vidro, desembaçado por esta vez. Observar pessoas têm tendência a me inspirar, cada vez mais.
Agora chove lá fora, mas isso não costuma espantar a população de uma cidade grande com a de São Paulo. A cidade não para, muito menos com a chuva, e as pessoas não param com ela.
Mas havia um casal, em meio aos pingos d’água. Eles pareciam não ligar para o vento, nem para a chuva, muito menos para a agitação nas ruas. O rapaz alto, branquelo e não tão forte, colocava seu casaco nas costas da namorada. E aqueceu-a ainda mais com um carinhoso abraço. A menina sorria tanto que me fez sorrir também. Na mesma calçada, uma mulher encardida sem encolhia embaixo de uma sacada, e abraçava seu próprio corpo, tentando se esconder do frio. Em vão.
De repente, um homem alto e muito bem vestido sorria, enquanto atravessava a rua. Se defendia da chuva com um jornal, e na outra mão trazia um buquê de rosas vermelhas. Por um instante pensei que o conhecia. E meu coração acelerou inconscientemente. Mas uma moça com cabelos louros e esvoaçantes o aguardava do outro lado da rua. Onde o recebeu com um doce beijo nos lábios.
Voltei meus olhos para o livro fechado sobre a mesa. Melhor voltar ao meu mundo irreal, onde a moça loura do outro lado da rua pode ser eu. Só é preciso acreditar.
E continuei apreciando minhas duas paixões, meu romance preferido e meu café quente com chantilly.
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